Em virtude do cenário pelo qual passamos há mais de um ano, é compreensível que…

Fora do ambiente escolar, crianças e adolescentes podem desenvolver sequelas emocionais
Dentro do possível diante do cenário atual, o ano letivo 2021 estava começando a seguir seu curso normal, mas, de repente, tudo mudou. Novamente os alunos foram convocados a ficar em casa e retomar integralmente a rotina das aulas remotas.
Após um longo período, em que já estávamos lidando com um cenário de estresse e até de depressão entre crianças e adolescentes, de maneira abrupta foi retirado desses indivíduos o convívio saudável e necessário do contexto escolar.
Com as aulas interrompidas e a ausência da escola como primeiro espaço de socialização e aprendizagem, as referências de conduta das crianças não estão mais nos educadores e nos colegas, mas concentradas nas famílias que vivem com elas sob o mesmo teto. E já tivemos inúmeros exemplos de como esse cenário prejudicou o desenvolvimento emocional e cognitivo dos alunos ao longo período de pandemia.
Os seres humanos aprendem se relacionando com seu entorno. A criança aprende ao explorar o mundo, ao brincar com sua realidade. Ainda que as escolas não sejam os únicos espaços de cuidado e aprendizagem, ali encontramos processos sistematizados que pretendem impulsionar a aquisição de conhecimentos. As instituições educacionais promovem também a oportunidade de encontros com os pares, pessoas de idades e momentos cognitivos aproximados. Esses encontros promovem a aprendizagem e a aquisição de novos conhecimentos. A socialização e o exercício de convívio no coletivo são consequências preciosas da frequência à escola.
Para a criança da educação Infantil e séries iniciais, especificamente, há prejuízo no aprendizado, pois nessa fase os alunos precisam de experiências concretas e interativas para consolidar o conhecimento e as aulas remotas não são suficientes para isso.
E como fica o emocional dos alunos diante deste contexto, novamente?
Muitos relatam que crianças e adolescentes sairão mais fortes desse cenário, mas não é verdade. Romantizar essa situação acreditando que os alunos sairão mais fortes ou que eles são os verdadeiros heróis da pandemia parece-me um pouco cruel.
Afinal, um ser humano ainda em desenvolvimento não tem recursos cognitivos, sociais e linguísticos para expressar sua dor. Crianças aceitam porque não têm escolha; ficam emudecidas diante do caos.
Quando não tratados, os distúrbios emocionais que surgem na infância e na adolescência podem representar graves prejuízos à idade adulta. Quando comparados às condições normais, o risco de sequelas resultantes dos desajustes mentais na juventude é muito mais significativo durante esse período de quarentena. Por isso, o retorno às atividades presenciais se torna tão necessário.
É claro que todas as medidas de segurança devem ser seguidas e a escolha desse retorno sempre será da família, mas escola aberta é um direito que nem deveria ser questionado.
Meu receio é que a ausência dos colegas e a falta de interação com a comunidade escolar, aliadas à responsabilidade de cumprir, sem a mediação direta do professor, as tarefas da escola, afetem ainda mais a estabilidade emocional de crianças e adolescentes.
Por Maria Lucia Zapata Tavares
Coordenadora Pedagógica do Colégio Platão
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